segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Chegando em casa...

Era por volta de 9 da noite. Ela tinha acabado de sair da aula de Teatro. Cabelo cacheado e bagunçado com lacinho vermelho, da cor do batom. Vestido solto e sapato oxford. Era tarde pra voltar a pé. De todo jeito, tinha que voltar de ônibus. Mas como fazer se faltavam 65 centavos pro dinheiro da passagem?

A menina pensava, enquanto caminhava contra o vento e achava a cidade linda à noite... Ela caminhava calma e serena.

O jeito era bancar a malandra mesmo. Pensou em pegar o ônibus e ficar um longo tempo lá dentro, fingindo procurar o dinheiro, pra depois dizer que esqueceu em casa e ser despejada num ponto qualquer pra pegar outro ônibus e fazer a mesma coisa. O problema é que isso não se faz assim. Somente em casos urgentes. Apesar de ser um prática comum quando se está atrasada para o trabalho (quase todo dia). Precisaria de um outro plano. Poderia ser tão simples pedir um trocado pra alguém da rua... Mas não é. Não se tem intimidades assim com qualquer um. E o que os outros iriam pensar? Dane-se! Os outros são outros. O importante é chegar em casa rápido e com segurança. A menina armou sua cara-de-pau (afinal ela é atriz). Iria pedir 50 centavos, porque 65 é muito. Havia uma moça com uma rosa na mão.

— Moça... er... por favor... — disse a menina.

A moça olhou com olhar de censura.

— É chato pra mim isso. — prosseguiu. — Por um acaso você tem 50 centavos pra inteirar pro meu ônibus?

— Não posso! — respondeu a moça. — Tô com o dinheiro certinho pra minha passagem.

— Ah... tá. Desculpa a amolação.

Olhou em volta. Amoça parecia pensar: "Hunf!" A menina pensou: "Ao menos não vou vê-la nunca mais.", enquanto caminhava para perto do banco. Um rapaz, uma mulher e um garoto. Ela pensou serena e fria.

— Er... É chato pra mim, mas por um acaso vocês podem inteirar 50 centavos pra minha passagem?

Eles se entreolharam e olharam pra frente. A mulher olhou pra menina e mexeu na bolsa.

— Toma!

— Moça, muito obrigada! — agradeceu sorrindo. — Desculpa a amolação!

Chegou o ônibus. Dona Quita / Dona Rosa.

— Oh moço! — disse a cínica ao trocador. — Eu achei que o dinheiro tava certo. Tá faltando só 15 centavos. Tem problema?

— Uai... — respondeu o trocador um pouco nervoso. — Vai faltar aqui no meu caixa, né! ... Mas eu reponho pra você!

Ela agradeceu e passou a roleta.

O malandroé sem-vergonha, o trabalhador é honesto e fiel e o capitaslista é cruel e muquirana. 1 centavo para o capitalista: se for lucro é pouco; se for prejuízo é muito. Quem sofre é o trabalhador. Malandro tira onda e dribla direitinho os outros dois sujeitos.

Desce do ônibus. A rua é escura e silenciosa. Uma brisa a acompanha. Abre o portão e não acende a luz, como de costume. Ela prefere ser guiada pela luz da lua. "A lua me ilumina!", pensa, olhando para o luar. "Ilumina meu corpo e minha alma." E a gata preta vai saltitante receber sua dona, como uma criança recebe a mãe.

Um comentário:

  1. ANA!
    Para você nun falar que sou uma amiga desnaturada, eu to qui dando as boas vindas e dizendo que eu adorei esse textinho =w=. Pobreza ein??
    Enfim, você está escrevendo mto bem ^^
    Bjs, me liga.

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