quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Carta pro Sávio

Eu escrevi uma carta pro meu amigo, Sávio (que agora também é meu irmão). E esta carta, é uma carta cheia de dialética. Por isso achei interessante colocar uns trechos aqui.


“Concordo, em partes, com isto que você escreveu: ‘A vida, apesar de aparentar ser complexa, se revela de maneira simples.......e viver pode ser simplesmente viver, mesmo que incomode a todo um sistema de coisas que não concorde com isto e que faz de tudo pra impedir que isto flua de maneira natural.’ É. Você disse que a vida parece ser complexa, mas na verdade, ela é simples. Realmente! O que faz com a que a vida pareça difícil, são as pessoas e o ‘Monstro Sist’ (o Sistema). E o fato de cada um de nós existirmos, incomoda este monstro, não sei por quê. Ele nos oferece cigarro, bebida inebriante e drogas para permanecermos por pouco tempo. Isso sem falar que quando aposentamos, paramos de trabalhar e vivemos do dinheiro do INPS, que damos na juventude. Só que, a cada ano que passa, o dinheiro (que devia aumentar, pois quanto mais velhos ficamos, mais gastamos grana com remédios, cuidados, etc.) vai só diminuindo até você morrer. Aí a gente morre. Morreu, acabou. Não existimos mais, ‘nem estamos cônscios de absolutamente nada.’ Só que seria bem conveniente deixarmos uma grana para nossos parentes pagar o nosso caixão, o velório e um lugar no cemitério (até lá é disputado). Tsc! Tsc! A coisa mais foda que existe é o tal do dinheiro. Odeio dinheiro! O que eu discordo nesse seu pensamento é o que você disse que viver pode ser simplesmente viver. Sim, eu adoro a vida. Mas eu não queria ficar parada até a morte chegar. Viver é alegrar-se, divertir-se, compartilhar, perdoar, abençoar, amaldiçoar, chorar, entristecer, alegra-se de novo, descobrir, procurar, pesquisar, escarafunchar, encontrar, perder, reencontrar, etc. Você tem de estar a todo segundo possível colocando em prática algum verbo na 1ª pessoa (seja ele fazer ou pensar). Porque os segundos se perdem muito fácil. É difícil ser amigo do Tempo. Ainda mais no Sistema em que vivemos. E sem falar das horas em que precisamos dormir. Apesar de adorar dormir e sonhar em meu sono, eu acho que dormir é perda de tempo. Ás vezes a gente tá sonhando um sonho maravilhoso, às vezes muito real, aparentemente. Mas aí o seu relógio começa a gritar escandalosamente e aquilo tudo que está na nossa frente simplesmente desaparece como uma fumaça e fica tudo escuro. Aí você descobre que aquilo tudo não passava de um mero sonho bonito, abre os olhos e pensa: ‘Puxa! Aquilo bem que podia ser real...’ A 1ª coisa que eu penso ao acordar é: ‘Já???’ Rsrsrsrsrs!!! Mas a essa hora eu bem que podia estar admirando o nascer do Sol. Seria muito mais proveitoso! ^^ (...)
Pra gente aproveitar a vida meeeeeesmo, tem que ter muita grana. Você deve estar discordando do que eu estou dizendo, mas isso é a mais pura verdade, vivendo num sistema como este. Olha, se eu fosse mais rica que o Bill Gates, eu ia, facilmente, montar uma banda de rock; ir em todas (sem exceção) as baladas pünks e festas psicodélicas de São Paulo; ia viajar até o 6º dos infernos, dar a volta ao mundo, conhecer várias pessoas e culturas; e ainda ia ajudar os pobres e necessitados. É o doce! xD Só que a chance de isso acontecer é de 1%. Então nem é bom eu ficar pensando muito nisso. (...)
Quanto à Música (Agora estou tendo aulas de Música, tendo como habilitação, violão e vocal)... Oh, sim! Compor letras e melodias. Isso não vai ser difícil pra mim, pois eu tenho um caderno cheio de poemas da minha autoria (...) e outros versos revoltados. (...) Aí ia pedir [pro Dennis*] botar melodia nos versos. Só que depois eu pensei melhor, e resolvi esperar eu ficar mais craque em Música, que é pra eu mesma colocar melodia na música. Seria muito mais original. Porque a melodia também nos diz muita coisa. Por exemplo, quando você escuta um órgão, já logo pensa em morte, góticos, morbidez, etc. Isso porque o órgão é assim. É a alma do instrumento, da música, do autor disso tudo que está lá tocando o instrumento. E aquilo que você interpretou ao escutar a tal melodia, é isso mesmo que o autor quis transmitir. Porém, com a letra a expressão fica mais clara. Então se a melodia dos meus versos também partisse de mim, deveras ficaria mais autêntico. Mesmo porque, o que eu escrevi é muito pessoal, e também não daria pro Dennis acrescentar qualquer coisa partido dele (não daria pra compormos juntos, nesses versos).
Faz tempo que eu não tenho conversas filosóficas. A Niara” (minha melhor amiga) “se foi, o Daniel” (meu 1º amor) “se foi, meu pai acha que eu ainda sou uma menininha, você e todos aqueles palestrantes do GEEC” (uma ONG que eu frequentava, onde o Sávio dava aulas de Desenho) “também se foram, o Henrique (meu irmão) tá longe... o-o Tsc! Que tristeza! Rsrs!
Com isso, a minha criança interior fica meio perdida, perplexa, sem saber do que brincar. Porque dentro de cada um de nós, existe uma criança e essa criança gosta de brincar de Filosofia. Ela pergunta pra Deus qual o tamanho do Universo e por quê que o céu é azul. A minha menininha está sedenta, louca pra brincar. Só que, no momento, ela não tem com quem nem com o quê brincar. Porque parece que tudo que tinha que pensar já foi pensado (repare que estou postando menos no meu blog). E não é bem assim! Eu sei que ainda há muito o que pensar, perguntar e questionar. Já falei isso com a Beatriz” (minha psicóloga) “, mas não sei se ela entendeu.
Por exemplo, quando eu era pirralha eu tinha a imaginação era muito fértil. Eu lembro que quando eu tinha uns 3, 4, 5 anos o meu maior sonho era voar. (...) E eu ficava brincando no alpendre (de casa). Aí eu tentava voar. Fechava os olhos, batia os bracinhos no ar, corria em câmera lenta e abria os olhos de novo. E não é que eu voava mesmo? Rsrsrsrsrs!!! É sério! A minha imaginação era tão fodassa que eu conseguia dar voos curtos. Só que, é claro, eu queria alçar voos mais altos. E isso é óbvio que eu jamais ia conseguir, né! Mas eu bem que acreditava. Eu também tinha amigos imaginários (eram personagens de desenhos animados). Lembro do Cristóvão (do Ursinho Pooh), da turma da Mônica, do pessoal da Branca de Neve, das bruxas que me assombravam, das fadas que me abençoavam, da Pequena Sereia, do Peter Pan, Sininho, Wendy, Capitão Gancho, Aladin, o povo do Mickey, etc.
Eu quero voltar a ser criança...”




* Dennis (80’s) é vocalista de duas bandas paulistanas, Segundo Inverno e Days are Nights. O gênero é rock underground. Para mais informações sobre Dennis e suas bandas, clique aqui.

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