terça-feira, 25 de maio de 2010

Ana Lu explica Platão

Introdução:



Esse post ficou colossalmente gigantesco. Acho que foi o maior post que eu já escrevi. Mas vocês podem ter certeza que tem conteúdo, viu! Se não tiverem tempo ou paciência de ler isso tudo, por favor, LEIA PELO MENOS A CONCLUSÃO QUE TÁ LÁÁÁÁ EM BAIXO.
Agradeço o interesse! ^^


Meu professor de Filosofia, o Nixon, está considerando com a gente, em uma apostila, os livros VII e VIII da obra A República, de Platão. Eu recomendo essa obra para quem tem muito entendimento de Filosofia e para quem tem paciência e muita vontade de aprender. É um livro interessante!
Bem, não é qualquer um que tem capacidade de ler esse livro, pois a linguagem que Platão usa aqui, é muito difícil de entender. Além disso, várias vezes ele mistura os assuntos e volta atrás. É de dar nó nos neurônios. Se eu lesse sozinha não daria conta de fazer o trabalho que o Nixon nos deu. E o trabalho é esse: ele dividiu a sala em grupos, sendo que cada grupo vai apresentar um assunto da apostila.
O meu grupo ficou com a parte que fala da dialética. Somos 8. Na verdade 4, pois a Hana, o Wallan, o Willian e a Jéssica desistiram do trabalho. Aliás, a Hana é uma asna! Pobre Hana... Besta tola que ela é! Rsrsrsrs!!! Os outros são apenas desinteressados. Eu, Lolla e Pamela marcamos um encontro. A Lívia considerou a parte dela sozinha, por falta de tempo para nos encontrar.
Antes de eu encontrar com as meninas, a Lolla nos pediu para lermos a apostila e fazer um relatório de tudo o que entendemos. Daí a gente ia se encontrar discutir nossas ideias.
Meu Deus! Que livro difícil de ler! Sozinha eu não ia dar conta. Então, pedi pro Papai considerar a apostila comigo, porque apesar de ignorante ele é muito inteligente. O livro trata-se de um diálogo entre Sócrates e um tal de Glauco*. E assim foi. Cada um lia uma fala de cada personagem (já que Glauco sempre dizia meia dúzia de palavras, na média). Como fui lendo com meu pai, digamos que minha alma se elevou e eu acabei entendendo mais do que ele. =D
Achei tão interessante, que resolvi prestigiar Platão aqui no meu bloguxo e copiei meu relatório, que apresenta os trechos que eu entendi com a minha explicação do que se trata. Eu não uma pessoa absolutista, portanto eu vos digo que não tenho certeza se meu raciocínio está correto. Mas se vocês concordarem se eu entendi certo, então é porque realmente está certo.


foto-03791.jpg “(...) a capacidade dialética é a única que pode revelá-lo a quem tiver prática das ciências”. Você aprende uma coisa e, para ensinar os outros, você usa o dom da fala. Só assim você expressa suas opiniões e aquilo que aprendeu.
“O método da dialética é o único que procede, por meio da destruição das hipóteses, a caminho do autêntico princípio, a fim de tornar seguros os seus resultados, e que realmente arrasta aos poucos os olhos da alma (...)e eleva-os às alturas, utilizando como auxiliares para ajudar a conduzi-los às artes (...)”. Por meio da fala, nós criamos várias hipóteses e teorias, a fim de chegarmos a uma conclusão sobre determinado assunto. Assim, no uso da fala, aos poucos eliminamos as hipóteses daquilo que não confere para chegar na resposta correta. E isso faz com que nossa alma se eleve, conduzindo-nos para as artes.
“(...) ciência à 1ª divisão, entendimento à 2ª, fé à 3ª, e suposição à 4ª, e opinião às 2 últimas, inteligência às 2 primeiras, sendo a opinião relativa à mutabilidade, e a inteligência à essência. E, assim como a essência está para a mutabilidade, está a inteligência para a opinião, está a ciência para a fé e o entendimento para a suposição.” São 4 divisões: ciência, entendimento, e suposição. A ciência e o entendimento estão unidas por meio da inteligência, enquanto a fé e a suposição estão unidas por meio da opinião. A inteligência está relacionada com a essência (a inteligência é essencial; sem inteligência não somos nada, pois é ela que nos move para elevar nossa alma) e a opinião está relacionada com a mutabilidade (a opinião é mutável; hoje pensamos de um jeito, amanhã mudamos de ideia). A essência está ligada à mutabilidade. Assim sendo, a inteligência está ligada à opinião. Se a inteligência está ligada à opinião, a ciência está ligada à fé e o entendimento está ligado à suposição. Um fator depende do outro.
“Quem não for capaz de definir com palavras a ideia do bem, separando-a de todas as outras, e, como se estivesse numa batalha, exaurindo todas as e refutações, esforçando-se por dar provas, não através do que parece, mas do que é, avançar através de todas estas objeções com um raciocínio infalível — não dirás que uma pessoa nestas condições não conhece o bem em si, nem qualquer outro bem, mas, se acaso toma contato com alguma imagem, é pela opinião, e não pela ciência que agarra nela (...)”. Quem conhece o significado verdadeiro do bem, sabe definir a ideia do bem, usando a fala, sabendo diferenciá-la das outras coisas (ou conceitos e ideias), se esforçando para explicar pelo que esta ideia realmente é, lidando bem com as objeções e respondendo com firmeza às dúvidas e aos questionamentos. A pessoa que não sabe definir a ideia do bem assim, talvez saiba definir através de uma imagem ou gesto; então, ela está definindo o bem pela opinião e não pela ciência. Daí, Sócrates continua: “(...) e que a sua vida atual a passa a sonhar e a dormir, pois, antes de despertar dela aqui; 1º descerá ao Hades para lá cair num sono completo?” “— Por Zeus, tudo isso eu sustentarei firmemente.” Aqui, o autor se refere a reencarnação. A sua vida atual é vivida e então ela acaba (você morre). Mas, antes de a alma reencarnar num outro corpo, ela descerá ao Hades# e lá cai num sono completo.
“— Achas então que a dialética se situa para nós lá no alto, como se fosse a cúpula das ciências, e que estará certo que não se coloque nenhuma outra forma do saber acima dela, mas que representa o fastígio do saber?” “— Acho que sim.” A dialética é um saber superior que protege todas as ciências. Acima da dialética não existe nenhum outro dom, pois ela é o ápice do saber.
“— Lembras-te, da nossa 1ª escolha dos chefes, quais é que nós selecionamos? (...) De toda maneira, quero que penses que devem ser essas naturezas que têm de escolher; devem preferir-se os mais firmes e corajosos e, até onde for possível, os mais formosos; além disso, devem procurar-se não só os de caráter nobre e másculo, mas também as características naturais condizentes com o nosso esquema de educação.” Isso é referência à escolha de mestres para nos ensinar a Filosofia. O que Sócrates disse a respeito das características naturais, quer dizer que o mestre deve ensinar a Verdade dentro dos padrões morais e éticos da sociedade. Daí, Glauco pergunta: “— Quais são as características que determinas?” O interessante, é que Sócrates não responde à pergunta de Glauco. Ele perguntou quais são as características e o mestre respondeu como achá-las. Note: “— Precisam, meu caro, de ter agudeza de espírito para o estudo e não ter dificuldade em aprender. É que as almas tornam-se muito mais do receio dos estudos aturados do que dos exercícios da ginástica. Efetivamente, o esforço que fazem é mais íntimo, uma vez que é só deles e não partilhado pelo corpo.” “— É verdade.” Para achar as características naturais condizentes com o nosso esquema de educação, você precisa de ser uma pessoa estudiosa, ter facilidade em aprender as coisas e mente aberta. Aí, como o autor já disse antes (na parte que não me foi mandado estudar), a alma se eleva graças aos estudos e não à ginástica, porque com a ginástica você não está aprendendo nada. Afinal, o esforço que você faz para estudar e aprender as coisas é mais íntimo, é o esforço da alma. Não é partilhado com o corpo, que se esforça na ginástica. O esforço para estudar é mais profundo.
“— Tem de se preocupar também a memória, a força e gosto pelo trabalho em todas as suas formas. Ou de que maneiras pensas que ele consentiria em aguentar o esforço físico e levar a cabo tamanho estudo e exercícios?” Temos de guardar, esforçar e gostar do que fazemos, senão, não damos conta do trabalho, como Glauco observou: “— Ninguém quereria, a menos que tenha toda espécie de dotes naturais.”



Um sapo vomitado



Como Papai não estava entendendo nada do que Platão estava falando, mesmo com eu explicando o que entendi e ele dizendo que “deve ser isso mesmo que você diz”, ele começou a achar o assunto chato e disse que “o cara fala, fala e não fala nada”. Bem, eu discordo. Na verdade, eu acho que Platão bebeu uma caipirinha quando escreveu A República, daí acabou misturando os assuntos. Mas acho que ele se expressou muito bem. Então, Papai disse que Platão usou aquela linguagem difícil pra parecer ser O cara sábio. E assim a gente foi lendo e comentando e ele criticando. Até que chegou na parte a seguir, onde o próprio Platão fez sua defesa:
“— O certo é que o erro atual e a desvalorização que por esse motivo recaiu sobre a filosofia, como já antes referimos, provêm de se ocupar dela os que não estão à altura. Não deviam ser os bastardos a tratar dela, mas os filhos legítimos.”
— O que ele quer dizer aqui, — disse Papai — é que as pessoas que não valorizam a Filosofia (que nem eu), os que criticam, que acha bobagem contemplar as coisas, não deve nos ensinar Filosofia, e sim aqueles que compreendem o assunto.
— Huahuahuahuahuah!!! — ri com um certo escarninho — Viu! Viu! Critica mais! Aí ele te censurando! Tá vendo!? Huahuahuahuahuah!!!
Adorei isso! xD

Continuando...
“— Em 1º lugar, quem empreende este estudo não devem claudicar no amor ao trabalho, sendo em metade das coisas esforçado, e na outra metade inativo. Isso acontece quando alguém tem gosto pela ginástica e pela caça, e faz de boa vontade todos os esforços físicos, mas não gosta de aprender e de escutar nem de investigar, antes detesta todos os esforços dessa espécie. Claudica também aquele que cujo amor pelo trabalho tomou a direção oposta.” “— É verdade.” Quem estuda Filosofia deve ser dedicado também no trabalho, ou seja, essa pessoa deve ter o coração pleno para com tudo, ser plenamente esforçado em tudo, claro, com boa vontade.


Conclusão


Adorei fazer esse trabalho! Aprendi muita coisa. Aprendi novas palavras (fastígio e claudicar), aprendi que devemos ser práticos e versáteis (conciliando o trabalho com o estudo), tudo que fazemos deve ser feito com boa vontade e equilíbrio. A ideia de ter mente aberta ficou frisada aqui no meu Mundo Invisível e também a ideia de que não podemos viver sozinhos. Se eu tivesse que fazer esse trabalho todo sozinha, sem a ajuda do um pai (que apenas leu comigo e não entendeu nada, mas serviu de grande ajuda) e sem a concordância de Lolla e Pamela eu ia tirar 0 e iria ficar decepcionada comigo mesma. Porque eu tirar 0 em Matemática, Física e Química é uma coisa. Fico triste, mas sei que nem se o Albert Einstein e o Pitágoras baixar aqui e me explicar essas materias, eu não vou entender. Mas 0 em Filosofia (que eu gosto muito) é phoda!
Platão também ensina, nessa obra, que tudo o que aprendemos devemos ensinar aos outros. Isso se cruza com uma ideia budista contrária, que diz que “quem sabe não fala, não diz.” Até mesmo Jesus Cristo nos ensinou em Mateus 10:27: “O que eu vos digo na escuridão, dizei na luz. E o que ouvis sussurrado, pregai do alto das casas.” Tudo aquilo que a gente aprende, devemos passar pra frente, para trocarmos ideias com as outras pessoas. A sabedoria, se é dividida, é também multiplicada. Pois se ensinamos a outra pessoa o que aprendemos, essa pessoa vai enriquecer sua sabedoria, nos corrigir (se estivermos errados) ou acrescentar novas ideias ao nosso saber. Não custa nada partilhar conhecimento. Só temos a ganhar! ^^
Meu pai até se lembrou de um relato que ele leu numa revista, A Sentinela, há muito tempo atrás, que diz que por mais de 200 anos o Japão se isolou do resto do mundo (com exceção da China, da Coreia e da Holanda). O relato diz: “Em 1549, o missionário jesuíta Francisco Xavier chegou ao Japão para disseminar a sua religião. Em pouco tempo, a fé católica-romana tornou-se proeminente no país. (...) Assim, o catolicismo foi banido, embora isso não fosse estritamente cumprido. Afirmando que o Japão era ‘a nação divina’, os governantes não queriam permitir que uma religião ‘cristã’ ameaçasse o seu sistema. (...) os missionários católicos vinham em navios mercantes portugueses, e o governo almejava os lucros que esses navios representavam. Não obstante, aos poucos o medo de que os católicos influenciassem os japoneses se tornava maior do que o desejo dos governantes de comerciar. Assim, baixaram-se decretos apertando o controle do comércio exterior, da emigração e dos ‘cristãos’. Quando os perseguidos e duramente pressionados ‘cristãos’ se revoltaram contra um senhor feudal local, isso foi a gota d’água. Encarando o levante como resultado direto da propaganda católica, o governo xogunato central expulsou os portugueses e proibiu os japoneses de irem ao exterior. Com a promulgação desse decreto em 1639, o isolamento do Japão virou realidade. Os únicos ocidentais a quem se permitia continuar a negociar com o Japão eram os holandeses, que ficaram restritos a Dejima, na época uma pequena ilha no porto de Nagasáqui. Por 200 anos, a cultura ocidental vazava para o Japão apenas através dessa agora reivindicada Dejima. Todo ano, o diretor do posto comercial da ilha apresentava o ‘Relatório Holandês’, que permitia ao governo saber o que se passava no mundo exterior. Mas, o regime xogunato cuidava de que ninguém mais visse esses relatórios. Assim, os japoneses viveram em isolamento até que o comodoro americano Matthew C. Perry bateu à sua porta, em 8 de julho de 1853. Os grandes navios pretos de Perry expeliam fumaça ao entrarem na Baía Iedo, deixando assombrados os pescadores locais, que pensavam tratar-se de vulcões em movimento. Os cidadãos de Iedo (agora Tokio) entraram em pânico, e muitos fugiram da cidade carregando seus pertences. Esse êxodo foi tão grande que o governo teve de emitir uma nota oficial para acalmar o povo. Não apenas os navios a vapor comandados pelo comodoro Perry, mas também os presentes que ele trouxera pasmaram aquele povo isolado. Ficaram pasmados diante da demonstração de mensagens telegrafadas de um prédio para outro.” Isso é o cúmulo do absurdo! Nos ensina a sempre estarmos abertos a novas ideias, o que pode resultar em benefício.
Por isso eu repito: A sabedoria, se é dividida, é também multiplicada. E vos digo, nas palavras de Raulzito: “Faça, fuce, force, vá! Derrube essa porta!”




* Esse diálogo nunca existiu. É só ficção para Platão colocar suas ideias. Provavelmente, ele usou Sócrates como seu personagem porque o cara foi seu mestre.
# Hades (em grego, haí·des, que, em geral, significa “sepultura”) é o deus grego da morte.

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